quarta-feira, 8 de abril de 2009

Eu sei, você sabe.

Existe um momento na vida de cada um em que é preciso separar tudo que você já viveu daquilo que está por vir.
Existe algo que ninguém pode notar. Ninguém, ninguém além de mim. E eu sei. Eu sei o que acontece quando te cobram demais, quando exigem de você coisas que você não pode dar.
Hoje, depois de tudo, não sei se há como esconder a insegurança da vontade de se deixar levar pelo momento. E acho que somente em momentos como esse, quando palavras se tornam desnecessárias, é que poderemos descobrir o que é ou não é real.
Ainda espero a minha resposta, ainda espero que a resposta venha de você. A minha parte já fiz, permanecendo aqui mesmo sem ter motivos para isso.
E eu não preciso provar mais nada para ninguém. E você não precisa provar mais nada para ninguém.
E somente eu sei o que acontece quando te cobram demais, quando exigem de você coisas que você não pode dar. E isso é algo que jamais farei.
Então, quando perguntarem o que nos liga ainda, depois de tanto tempo, permaneça em silêncio. É algo que só eu e você entendemos a complexidade, o tamanho.
E eu sei que a sua luta para tentar me esquecer durante todo esse tempo foi bem menor do que a vontade de ficar para sempre ao meu lado.

sábado, 4 de abril de 2009

Pela última vez.

Ele partiu sem nenhuma dor. Ela fechou a porta e sua vida continuou de onde estava. Pela primeira vez, ela fechava aquela porta sem sentar na escada e chorar por ele ter ido embora pra sempre. Pela primeira vez, ele saiu sem que ela o observasse partir com o coração apertado. Pela primeira vez, ele foi embora sem deixar uma gotinha de esperança de que ela pudesse tê-lo de volta na vida dela. Pela primeira vez, ele partiu sem que eles tivessem trocado mais do que um abraço apertado. Pela primeira vez, ele se foi sem que eles tivessem remexido o passado ou chorado porque alguma coisa não deu certo entre eles. Pela primeira vez, ele foi embora de verdade. Pela última vez, ele foi embora.

Aproveitando a solidão.

Talvez porque ela goste de chegar em casa sozinha. Tirar suas roupas e se jogar em cima da cama. Poder deixar tudo espalhado. Tomar banho de porta aberta. Reservar-se o direito de não atender o telefone fixo. Assistir ao canal de TV que ela bem entender. Ficar na internet por quantas horas achar conveniente. Dar end no celular de acordo com seu humor. Ir e vir de onde ela bem entender e na hora que ela bem entender. E com quem ela bem entender. Talvez ela até goste de comer miojo quando tem preguiça de sair pra almoçar nos finais de semana. E talvez ela prefira a companhia do seu passarinho na sua cama. Talvez tudo isso seja verdade. E talvez tudo isso passe. Mas fato é que a cidadã não vai abrir mão disso por pouca coisa. E que ela não troca suas tardes de domingo sozinha por tardes de domingo em companhia errada.

Esperança.

Eu, que não sei de tantas coisas, continuo crente no que, para os outros, parece incerto. Eu que sempre fui tão imediatista e fugaz, sento agora no cantinho mais confortável de mim, sem aquele desespero do começo, para esperar você.
Eu sei que você vem.

Sem Photoshop,

Só ele conheceu uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses, todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas, peitos falsos, bundas falsas, bebidas, poses, frases de efeito, saltos altos, maquiagem e risadas altas. Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você, ninguém nunca soube do meu medo de nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder um pouco de tanto amar, de não ser boa o suficiente. Só ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade, meu choro baixinho embaixo da coberta. Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso.

Mudanças.

Mudei porque amadureci. Mudei porque passei por tantas e tão diversas experiências que consegui aprender com meus próprios erros. Mudei porque me decepcionei com amigos, porque me decepcionei com amores. Mudei porque conheci pessoas tão especiais que fui capaz de me inspirar por elas e me espelhar nelas para me tornar uma pessoa diferente. Talvez uma pessoa melhor.
O tempo passou e eu mudei. Nem tudo e nem todos me acompanharam. Mas valeu a pena.

Sem mais perguntas.

Esta noite não irei perguntar por que você voltou, por qual motivo bate à minha porta com olhos confusos e cheios de um vazio incalculável. A verdade é que nem mesmo você sabe. Não há explicação, compreende? Agora, mais do que nunca, será preciso encher o vazio de palavras. Pergunto-me por qual motivo você se foi, se sabia que a partida resultaria em uma imutável distância e que nessa distância a gente, irremediavelmente, perderia ou esqueceria tudo aquilo que construímos juntos. Você sabe, é na distância que a gente esquece ou se perde. E a gente esquece sabendo que está esquecendo.


quarta-feira, 18 de março de 2009

Desapego

Tenho costume de evitar qualquer apego sentimental. Se uma situação coloca em risco a minha liberdade, já é motivo para sufocar o meu pulmão. Eu não gosto de sentir falta de ar. Não é justo eu perder o ar para me perder. Se eu perco o ar eu perco a minha paz.
Gosto das coisas bem claras. Não me agrada saber que um sentimento pode nublar o meu dia, clarear a minha noite. E é por isso que eu evito. Evito começar qualquer relação para poupar desespero depois. Evito noites de paixão para poupar um possível amor. Evito receber para não ter a obrigação de retribuir. Evito felicidade para poupar tristeza.
Evito porque não sei lidar com perdas.

Não que eu me esquive sempre. Eu me permito momentaneamente. Tenho colo confortável quando preciso, posso escolher a dedo qual vai ser a minha companhia amanhã, tenho a disposição várias mãos quentes para segurar. E eu tento fazer isso bastar. Eu só não pretendo ter que segurar a mão agora para apertá-la depois. Não quero garantir segurança se a insegurança me domina.

É isso, sou insegura mesmo. E, por isso, não me permito. Eu me deixo levar até o momento que o chão começa a desaparecer e o precipício aparecer. Eu não quero me jogar. Eu dou meia-volta e largo a estrada. É bom caminhar sozinha.
Eu sigo intacta, ainda que toda esburacada. Sou assim, gosto de seguir adiante. Sem me amarrar a momentos, sem deixar mágoas. Apenas deixar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

My way or the highway.

Meus amigos dizem que sou fria. Que tenho coração de gelo. De jeito nenhum! Sou apenas prática. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Até porque nunca tive talento pra auto-flagelação. Fui mimada a vida inteira, gosto de ser bem tratada. Exijo. Comigo, é do meu jeito. E se não tiver bom assim, querido, passe mais tarde. O produto é de boa qualidade e tem garantia. Não gostou? Devolve. Tem uma fila gigante lá fora só esperando a porta abrir.

Sem sobras,

Uma pessoa que comprou uma cama gigante para dormir sozinha. Que comprou lençóis brancos e um edredom de 2,80m para esquentar ela mesma. Uma pessoa que gosta da sua própria companhia. Uma pessoa que não ocupa o espaço sobrando na sua cama com pessoas que sobram na sua vida. Uma pessoa que também não vai ser sobra na vida de ninguém. E, sim, essa pessoa sou eu.